terça-feira, 13 de abril de 2010

Música Portuguesa ou Música de Portugal?

Linda Martini

Há que estabelecer a diferença entre música feita em Portugal e música portuguesa. Uma coisa é ter músicos portugueses que, ouvindo as coisas estrangeiras e de que gostam muito, sentem o impulso de as tocar, e até cantam na língua deles, passando a ser intérpretes portugueses, de música não portuguesa; outra coisa são artistas portugueses, que depois de reverem alguma da musica que se produziu em Portugal sentem o impulso de reavivar essas memórias, e transportá-las para um disco, tornando-se assim praticantes de música portuguesa.

Existem programas nos meios de radiodifusão, que se dizem promover a nova música portuguesa, mas que ao fim ao cabo são meia dúzia de indivíduos a tocar musicas de outros indivíduos estrangeiros. E, com isto, não tenciono difamá-lo, dizendo que esse é um trabalho menor, porque não (desde que tenha pés e cabeça), só não podem levar o estandarte da musica portuguesa.

Mão Morta

Para que se possa catalogar de música portuguesa, tem que haver pelo menos um cheirinho de portugalidade natural, seja a nível da língua interpretada ou pelos instrumentos usados. Porque se se continuar a considerar musica portuguesa aquela produzida por bandas ou artistas como David Fonseca ou Rita Redshoes estamos em mau caminho: a identidade musical portuguesa mais dia, menos dia desaparece. E nem a introdução das quotas de musica portuguesa nos meios de radiodifusão irá salvar, pois 40% desta não é musica genuinamente portuguesa. Para isso propunha uma alteração à Lei nº 7/2006, e em vez dos 25% a 40% de "música portuguesa", alterava para um mínimo de 30% de musica que contenha a língua portuguesa interpretada por cidadãos dos Estados membros da União Europeia e/ou instrumentos tradicionais portugueses, obrigatoriamente.

É necessário salvaguardar a tradição portuguesa, e impedir que a quantidade crescente de entulho que se tem verificado pelas rádios portuguesas pare de crescer. É necessário que as bandas criem as suas próprias linguagens e identidades, Pop Dell'Arte e Mão Morta, a célebre banda bracarense, são disso belos exemplos, bandas que realmente marcaram a diferença, e que ainda hoje são vangloriadas. Há tentativas para tal, nas mãos de Norberto Lobo, Linda Martini ou Deolinda, e esses sim, estão num bom caminho para o concretizar.

David Fonseca e Músicos da editora FlorCaveira

Outro aparecimento digno de registo foi o da editora FlorCaveira de Tiago Guilul, que ao contrário das muitas opiniões em desacordo, são actualmente bons dignificadores da musica portuguesa. O que seria das rádios, actualmente, sem B Fachada, João Coração, Samuel Úria e Diabo na Cruz? Consegue-se até arranjar algum paralelismo do esforço feito por esta, com o de João Peste dos Pop Dell'Arte, aquando da criação sua editora Ama Romanta nos anos oitenta.

Há que mudar mentalidades, e há que olhar com mais amor para este país à beira-mar plantado, porque se não gostarmos de Portugal, não teremos mais ninguém que o faça por nós.

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